A primeira vez a gente nunca esquece. Me perdoe por começar
com uma frase tão clichê, mas os clichês são reais. Seja na escola, no trabalho
ou até mesmo no sexo, a primeira vez a gente nunca esquece.
Era uma sexta-feira, o ar da manhã estava congelando, de um
jeito que quase não vemos mais no
Brasil, acordei quase três horas antes de tamanha
ansiedade. É engraçado como a ansiedade pode chegar a ser palpável. Eu
respirava ansiedade; eu era a ansiedade. Ah, não se esqueça do medo, eu era o
medo e a ansiedade. 
Pela primeira vez fui sentado com a postura completamente
ereta no ônibus, medo da camisa amassar e o padrão da companhia aérea ser
desfeito, afinal quanto mais asseado melhor. Eu me sentia padrão: Calça branca,
camisa preta, cabelo bem cortado e barba bem feita. Quando eu desci do ônibus
no aeroporto tive a sensação de coisa nova, aquele momento em que você percebe
que tem muita coisa te esperando, mas você não faz a mínima idéia do que vai
encontrar.
Encontrei um grupo de meninas que também seriam aprendizes
comigo. Todos estavam extremamente arrumadas, menos uma. Perdoe-me pelo comentário
infame, mas a parte de trás da calça dela estava suja com algo branco, sou
extremamente perfeccionista, pensei em avisar, mas não achei que seria de bom
tom.
Apesar de aquele ser o primeiro dia no aeroporto, não soou
como trabalho. Nós simplesmente conhecemos o aeroporto. Divididos em grupos de
4 ou 5 pessoas fizemos um passeio “turístico”. Conhecemos desde os banheiros,
até o check-in da conexão.
Tudo começou de verdade na segunda-feira onde fomos jogados
aos lobos. Não sei se vocês conhecem a aviação brasileira, mas ela é uma
loucura, não digo no ar, mas a bagunça é na terra. Tínhamos três posições em
que poderíamos ficar: A loja (O sonho de qualquer novato, afinal aquilo ficava
as moscas), o internacional (Ah, como eu queria treinar o inglês no meu
primeiro dia) e o pesadelo, quero dizer, o doméstico (Imagine uma multidão de
gente aglomerada em um ambiente quase claustrofóbico).
Doméstico, essa era minha sina, esse era o meu medo e se
tornou o meu clube. Fui jogado aos cães de primeira, me colocaram no meio da
multidão e com meus olhos perdidos e ansiedade senti vontade de chorar, mas não
faz o meu estilo, simplesmente respirei fundo e fui. Comecei a atender sem
olhar pro relógio. Um sorriso no rosto, crachá no peito e a ansiedade dava
lugar a euforia. Me encontrei naquele momento, comecei a me descobrir no meio
daquela correria, no meio daquelas pessoas que eu nunca conheceria se não fosse
esse trabalho, eles eram meus lobos, eu era a sua caça, tudo que tive que fazer
foi encontrar um jeito de domesticar os lobos. Me dei tão bem em meio a eles
que nem tirei intervalo no primeiro dia. Naquele momento eu descobri que a
melhor forma de superar seus medos é olhando bem nos olhos deles e sorrindo. Nunca
se esqueça de sorrir para os seus medos.
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