terça-feira, 14 de abril de 2015

Um Jornada Aeroportuária: O primeiro dia

A primeira vez a gente nunca esquece. Me perdoe por começar com uma frase tão clichê, mas os clichês são reais. Seja na escola, no trabalho ou até mesmo no sexo, a primeira vez a gente nunca esquece.

Era uma sexta-feira, o ar da manhã estava congelando, de um jeito que quase não vemos mais no
Brasil, acordei quase três horas antes de tamanha ansiedade. É engraçado como a ansiedade pode chegar a ser palpável. Eu respirava ansiedade; eu era a ansiedade. Ah, não se esqueça do medo, eu era o medo e a ansiedade.

Aquele seria o primeiro dia de 17 meses, eu considerava toda aquela experiência como um processo seletivo de 17 meses, afinal só os melhores dos melhores seriam efetivados e eu precisava estar entre eles. Eu seria um deles.

Pela primeira vez fui sentado com a postura completamente ereta no ônibus, medo da camisa amassar e o padrão da companhia aérea ser desfeito, afinal quanto mais asseado melhor. Eu me sentia padrão: Calça branca, camisa preta, cabelo bem cortado e barba bem feita. Quando eu desci do ônibus no aeroporto tive a sensação de coisa nova, aquele momento em que você percebe que tem muita coisa te esperando, mas você não faz a mínima idéia do que vai encontrar.

Encontrei um grupo de meninas que também seriam aprendizes comigo. Todos estavam extremamente arrumadas, menos uma. Perdoe-me pelo comentário infame, mas a parte de trás da calça dela estava suja com algo branco, sou extremamente perfeccionista, pensei em avisar, mas não achei que seria de bom tom.

Apesar de aquele ser o primeiro dia no aeroporto, não soou como trabalho. Nós simplesmente conhecemos o aeroporto. Divididos em grupos de 4 ou 5 pessoas fizemos um passeio “turístico”. Conhecemos desde os banheiros, até o check-in da conexão.

Tudo começou de verdade na segunda-feira onde fomos jogados aos lobos. Não sei se vocês conhecem a aviação brasileira, mas ela é uma loucura, não digo no ar, mas a bagunça é na terra. Tínhamos três posições em que poderíamos ficar: A loja (O sonho de qualquer novato, afinal aquilo ficava as moscas), o internacional (Ah, como eu queria treinar o inglês no meu primeiro dia) e o pesadelo, quero dizer, o doméstico (Imagine uma multidão de gente aglomerada em um ambiente quase claustrofóbico).


Doméstico, essa era minha sina, esse era o meu medo e se tornou o meu clube. Fui jogado aos cães de primeira, me colocaram no meio da multidão e com meus olhos perdidos e ansiedade senti vontade de chorar, mas não faz o meu estilo, simplesmente respirei fundo e fui. Comecei a atender sem olhar pro relógio. Um sorriso no rosto, crachá no peito e a ansiedade dava lugar a euforia. Me encontrei naquele momento, comecei a me descobrir no meio daquela correria, no meio daquelas pessoas que eu nunca conheceria se não fosse esse trabalho, eles eram meus lobos, eu era a sua caça, tudo que tive que fazer foi encontrar um jeito de domesticar os lobos. Me dei tão bem em meio a eles que nem tirei intervalo no primeiro dia. Naquele momento eu descobri que a melhor forma de superar seus medos é olhando bem nos olhos deles e sorrindo. Nunca se esqueça de sorrir para os seus medos. 

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